FETP contribui no fortalecimento do SNS

– Defende a coordenadora do programa FETP, Cyntia Baltazar

A ocorrência cada vez mais frequente de emergências de saúde pública no país tem exigido o fortalecimento do Sistema Nacional de Saúde (SNS), nomeadamente na disponibilidade de técnicos com qualificação específica para a detecção, investigação de surtos e fortalecimento dos sistemas de vigilância de saúde.

Com vista a responder a este desafio, o Programa de Formação em Epidemiologia de Campo em Moçambique (FETP), uma iniciativa do Ministério da Saúde, coordenado pelo Instituto Nacional de Saúde, em parceria com a Universidade Eduardo Mondlane e com apoio técnico do Centro para o Controlo e Prevenção de Doenças, tem se mostrado como um mecanismo adequado para a formação de técnicos da saúde em epidemiológia de campo.

Segundo explicou a directora do FETP, Cynthia Baltazar, que falava no âmbito das celebrações do Dia Internacional do Epidemiologista, que se assinalara a 7 de Setembro, apesar de o programa ter pouco tempo de vida e não formar em grande quantidade, os técnicos graduados deste programa têm demonstrado um impacto positivo no SNS, sobretudo no controlo e gestão de surtos.

A Organização Mundial da Saúde e a Agenda Global de Segurança Sanitária estabelecem que os países devem ter, no mínimo, um epidemiologista por cada 200 mil habitantes para cumprirem com os requisitos básicos do Regulamento Sanitário Internacional.

Porém, neste momento, o FETP, que foi estabelecido em 2010 em Moçambique, já colocou, no SNS, 57 profissionais do nível avançado (com grau de mestre), formados em cinco turmas. Neste momento, decorre a sexta turma, com 11 formandos nacionais e dois internacionais.

Igualmente, decorre a formação no nível de Linha da Frente, que corresponde a uma capacitação de três meses, tendo já treinado e colocado 50 técnicos no SNS.

“Os nossos epidemiologistas têm trabalhado de forma árdua, desde a detecção, investigação de surtos e fortalecimento dos sistemas de vigilância de saúde”, disse.

Para citar alguns exemplos, a interlocutora partilha que, durante a resposta aos ciclones Idai e Kenneth, os epidemiologistas desempenharam um papel fundamental na condução de avaliações de risco, fortalecimento da vigilância epidemiológica de doenças transmissíveis, investigações de rumores e surtos e no fornecimento de informação em tempo real para a implementação de intervenções ligadas à prevenção e controlo de doenças.

Em relação à resposta à pandemia da COVID-19, a dirigente sublinhou que a doença exigiu, a nível global, esforços de preparação e resposta intensas baseadas em evidências e coordenados a todos os níveis de actuação. Por isso, assinala que foi inegável a importância do epidemiologista de campo como membro essencial das equipas de resposta às emergências em saúde pública, em especial na produção de informações para a tomada de decisão.

“Eles participaram, de forma activa, nos quatro pilares ligados às competências essenciais de epidemiologia de campo, que são a vigilância, implementação de equipas de resposta rápida e investigação de casos, e comunicação”, disse, indicando que, com a experiência do novo Coronavírus, o sector aprendeu que é fundamental continuar a investir na formação de recursos humanos para responder, de forma atempada, às emergências de saúde pública e mitigar os impactos negativos.

“Os epidemiologistas de campo são profissionais de saúde que ajudam a rastrear, conter e eliminar surtos antes que se tornem epidemias, tendo como elemento distintivo o facto de actuarem no terreno”, refere, indicando que o produto do FETP tem conseguido cumprir com a missão.

Como desafio, a entrevistada aponta o facto de o SNS não possuir uma carreira de epidemiologista, o que dificulta a inserção e valorização de muitos. Ela anota que se trata de um desafio não só de Moçambique, mas da maioria dos países africanos.

Em relação às perspectivas, a dirigente aponta para a continuidade do fortalecimento e implementação dos níveis de formação do programa, que, neste momento, perspectiva a introdução do nível intermediário, que arranca em 2023. O FETP possui três níveis de formação, que são o básico, também chamado Linha da Frente, o intermediário, cuja implementação arranca no próximo ano, e o avançado.