GRADUADA PELA FACULDADE DE MEDICINA: Pesquisadora do INS é primeira Doutora em Biociências e Saúde Pública no país

Ana Paula Abílio, bióloga e pesquisadora do Instituto Nacional de Saúde (INS), recebeu, recentemente, o título de Doutor em Biociências e Saúde Pública pela Faculdade de Medicina da Universidade Eduardo Mondlane (UEM) –Moçambique – tornando-se pioneira na obtenção do grau naquela área de conhecimento, no referido estabelecimento de ensino.

A vereda rumo à graduação iniciou-se em 2017, quando integrou a primeira turma do Programa de Doutoramento em Biociências e Saúde Pública da UEM, composto por módulos obrigatórios e opcionais, para além de actividades complementares, organizadas pela universidade de tutela e outras instituições de pesquisa.

Em 2018, a pesquisadora realizou um estágio internacional de seis meses no Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT), que lhe permitiu adquirir ferramentas importantes para o rastreio, isolamento e caracterização de vírus em mosquitos.

Na sequência acima, Ana Paula Abílio realizou pesquisas de vírus com relevância em saúde pública global. Os resultados da investigação deram corpo aos principais capítulos da tese através da qual alcançou o grau de Doutor, que, por sua vez, dá corpo a este diálogo.

“O estágio foi, igualmente, importante para estreitar laços de colaboração entre o INS e a vasta equipa de investigadores do IHMT dedicados aos estudos de doenças tropicais, com os quais continuamos a trabalhar em algumas tecnologias inovadoras para o controlo de doenças transmitidas por mosquitos, notavelmente a malária, no país”, explicou.

No dia 09 de Dezembro de 2021, a graduada deu um passo significativo em direcção à graduação, ao defender a sua tese, intitulada “Rastreio e caracterização entomológica de mosquitos como potenciais vectores de arbovírus em Moçambique”, um estudo focalizado na caracterização de vectores importantes para a transmissão de arbovírus, que são os agentes causadores de doenças ligadas à picada de mosquito.

“Nunca me ocorreu que eu seria a primeira diante de vários colegas competentes”

Ainda sobre o sucesso, que se afigura uma marca indelével nas páginas da academia moçambicana, em particular nos anais da Faculdade de Medicina, Ana Paula Abílio mostra-se admirada e realça que o sucesso por si conseguido é gratificante, tomando em consideração os desafios enfrentandos ao longo do processo.

“Nunca me ocorreu que eu seria a primeira diante de vários colegas competentes. Contudo, é gratificante, se olharmos pelos inúmeros desafios ultrapassados até à graduação”, partilhou.

Entre os desafios enfrentandos, figura a condução do trabalho de campo envolvendo amostras biológicas em locais remotos um pouco por todo país, como são os exemplos dos distritos de Montepuez e Lago (província de Cabo Delgado e Niassa, respectivamente); distritos de Mopeia e Sussundenga (província de Zambézia e Manica, respectivamente).

Ainda nos exemplos, cabe o caso dos distritos de Massinga e Goba (província de Inhambane e Maputo, respectivamente). Nas palavras da entrevistada, esta é uma das principais dificuldades, sobretudo no que toca a questões logísticas.

“Era necessário conservar as amostras de modo que o material genético (RNA) se mantivesse íntegro. Para tal, foi preciso transportar as amostras a uma temperatura de aproximadamente 80oC, em gelo-seco, dos vários locais de estudos localizados nas três regiões administrativas do país até à cidade de Maputo”, explicou.

Seguindo um sonho antigo

A interlocutora contou que a paixão pela área de Biociências e Saúde Pública foi a força motriz, para ela continuar e pensar além dos desafios, para além do seu interesse eminente em entender a relação existente entre seres os vivos e o meio ambiente ao mesmo tempo.

“O curso de licenciatura em Biologia na UEM, atiçou ainda mais a minha paixão. Desta feita, decidi seguir em frente, aperfeiçoando-me cada vez mais. Agora, o meu maior interesse é entender os factores que determinam o surgimento, a transmissão e propagação das doenças transmitidas por vectores na comunidade e desenvolver alternativas sustentáveis para o seu controlo”, revelou.

Actualmente, a pesquisadora é uma das peças-chave para o estabelecimento e consolidação da colaboração dos laboratórios da rede de Entomologia Médica do Sistema Nacional de Saúde a partir do referenciamento de análises laboratoriais e da implementação do Sistema de Gestão de Qualidade.

Ana Paula Abílio anseia aprimorar o papel de mentoria aos profissionais mais novos da Rede Nacional de Laboratórios de Entomologia Médica e continuar a estreitar parcerias de intercâmbio interlaboratorial com instituições nacionais e estrangeiras, para melhorar a capacidade tecnológica existente. Na senda acima, a recém-graduada vai continuar a colaborar com o INS na  transferência de tecnologias e no fortalecimento das técnicas laboratoriais na institutição.