Oncocercose ameaça províncias do Niassa e Zambézia

Os distritos de Lago e Sanga, na província de Niassa, e Milange e Morrumbala, na Zambézia, atravessados por algumas bacias hidrográficas, mostram-se habitats passíveis de albergar a mosca preta, um insecto capaz de propagar o parasita causador da oncocercose, uma doença que afecta a visão.

O alerta foi lançado recentemente em Maputo, durante uma reunião de divulgação dos resultados preliminares de um estudo realizado em Outubro e Novembro de 2019 nos distritos de Lago, Sanga e Mecanhelas, na província do Niassa, Milange e Morrumbala, na Zambézia, Cahora Bassa e Marávia, na província de Tete, com o objectivo de mapear a ocorrência da transmissão da oncocercose em Moçambique.

O estudo foi realizado por investigadores do Instituto Nacional de Saúde (INS), em parceria com a Sightsavers (organização não governamental), em coordenação com a Organização Mundial da Saúde OMS.

Jerónimo Langa, investigador no INS, explica que a oncocercose, doença que provoca lesões oculares, deficiência visual, cegueira e, na maioria dos casos, caroços sob a pele, está entre as doenças tropicais negligenciadas e é causada por Onchocerca Volvulus, um parasita transmitido entre os seres humanos pela picada de moscas pretas infectadas.

No mesmo contexto, a investigadora Ana Abílio, também do INS, relata que, na sua maioria, os estágios larvais de moscas pretas foram encontrados em rios com água corrente, com presença de pedras ou rochas fixas nas folhas das plantas, galhos e caules.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, cerca de 220 milhões de pessoas vivem em regiões de risco para o desenvolvimento desta doença, e mais de 99 por cento dos infectados vivem em 32 países africanos, incluindo países vizinhos de Moçambique, tais como Malawi, Tanzânia e Zâmbia, onde 14,6 milhões de pessoas estão infectadas e têm doença de pele, e 1,15 milhão apresentam perda de visão.

Para além dos investigadores do INS, a reunião contou com a presença do Director Nacional de Saúde Pública no Ministério da Saúde, Quinhas Fernandes, e de representantes de organizações não-governamentais e outros profissionais de saúde das províncias onde o estudo foi realizado.

Dados divulgados reportam altas prevalências da oncocercose nas regiões onde o estudo foi realizado, contrariando os dados da REMO de 2001, que consideravam Moçambique um país com incidência baixa para o oncocercose, situando-se abaixo de dois por cento.