Sucesso no combate e controlo do HIV requer inovação na geração de evidências

– Defende DGA do INS, Eduardo Samo Gudo

Moçambique fez progressos assinaláveis na área de prevenção, diagnóstico e tratamento do HIV/SIDA, consubstanciados numa significativa cobertura dos serviços ligados à doença. Porém, segundo o Director-geral adjunto do Instituto Nacional de Saúde (INS), Eduardo Samo Gudo, esta cobertura ainda não é suficiente para o combate e controlo da doença, numa altura em que as cifras de novas infecções são altas.

“Moçambique tem uma prevalência de HIV de 13.2 por cento, que é bastante elevada. O número de novas infecções por dia é também considerado alto, o que contraria todos os esforços do Governo e parceiros para o combate e controlo da doença. Verificamos, ainda, que há indivíduos que receiam saber o seu seroestado, mesmo sabendo que a actividade que realizam obriga”, explicou Samo Gudo, esta quarta-feira (14), durante o I Simpósio sobre Observação para HIV/SIDA em Moçambique.

O Director-geral adjunto INS diz haver, ainda, indivíduos que, sabendo que são seropositivos, não aderem ao tratamento e outros que, estando em tratamento, não o cumprem ou continuam a adoptar comportamentos de risco.

“Com tanta comunicação que é feita, há indivíduos que, mesmo sabendo como se previne e se transmite o HIV, ainda pautam por comportamentos de risco em relação à doença. Então, a questão que fica é: com tantas intervenções que estão sendo implementadas, por que é que ainda temos estes desafios?”, questionou, indicando que o objectivo do simpósio é “discutirmos sobre como é que podemos gerar conhecimento científico novo que nos permita entender estes desafios”, explicou.

Outra pergunta fundamental levantada pelo responsável é sobre que forma a evidência científica gerada pode ser utilizada a todos os níveis, incluindo na comunidade, na tomada de decisão individual e colectiva.

“Temos que começar a pensar diferente e fazer análises mais complexas. É preciso começar a pensar na análise de cenários e modelos em relação à geração de evidências sobre o HIV. Temos muita informação no país. Às vezes, o problema é não utilizarmos de maneira inteligente e eficiente. É preciso triangular as informações, o que exige novas formas de pensar a informação estratégica”, vincou.

Samo Gudo explica que é no quadro acima que o Ministério da Saúde (MISAU), através do INS e da Direcção Nacional de Saúde Pública (DNSP), criou, em 2017, o Observatório Nacional de Saúde (ONS), uma ferramenta que tem como objectivo intensificar as acções de geração de evidência científica. Este observatório compreende várias plataformas, uma das quais é a Plataforma de Observação de HIV/SIDA.

Na ocasião, a chefe do Programa Nacional de Controlo de ITS e HIV no MISAU, Alene Couto, destacou os avanços conseguidos até a esta parte no combate e controlo da epidemia.

“Moçambique está entre os cinco países mais afectados pelo HIV no mundo. Actualmente, possui cerca de 2.1 milhões de pessoas vivendo com a doença. No entanto, as novas infecções ainda continuam uma preocupação, apesar de terem reduzido de 150 mil em 2018 para 94 mil em 2022, assim como as mortes, que reduziram de 56 mil em 2018 para 35 mil, por ano, em 2022”, disse.

No Serviço Nacional de Saúde, segundo Couto, 96 por cento das unidades sanitárias (1.723) oferecem cuidados e tratamento para o HIV actualmente, contra 89 por cento de 2018. Este aumento das unidades hospitalares permitiu o incremento da cobertura do tratamento anti-retroviral, sendo que, actualmente, cerca de 88 por cento de pessoas que vivem com o HIV/SIDA (1.8 milhão) estão em tratamento.

Por seu turno, a Directora de Inquéritos e Observação de Saúde no INS, Ivalda Macicame, explicou que o simpósio é o primeiro de género que o INS, a DNSP e seus parceiros organizam com o objectivo de discutir os desafios e oportunidades existentes no país na componente de geração e uso de evidência científica para a tomada de decisão.

“Sendo Moçambique um dos países mais afectados pelo HIV, é importante discutirmos e identificar oportunidades, de forma a garantirmos que aquelas populações que são mais vulneráveis à infecção possam ser identificadas e estratégias possam ser implementadas, de forma a se reduzir a incidência da doença”, explicou.

Em relação aos infectados, Macicame diz ser importante discutir-se de que forma se pode gerar informação científica que apoie o Governo na implementação de intervenções tendentes à redução do impacto neles e da transmissão do vírus para outros grupos.