Ivalda Macicame destaca papel da mulher na investigação científica no INS

O Instituto Nacional de Saúde (INS) é uma prova de que Moçambique tem várias mulheres com profunda inclinação na ciência, como é o exemplo de Ivalda Macicame, investigadora com interesse científico e experiência nas áreas de pesquisa em mortalidade e causas de morte, determinantes socias de saúde e iniquidades em saúde, para além de monitoria das mudanças no perfil epidemiológico do país.

Em entrevista concedida no âmbito da celebração do Dia da Mulher Moçambicana (7 de Abril) Ivalda Macicame fala sobre como é ser mulher na ciência, sobretudo na área de saúde, em Moçambique, abordando os desafios e oportunidades.

Ela enaltece o INS pela valorização da mulher, explicando que, apesar de, a nível mundial, as mulheres na ciência não representarem nem metade dos cientistas, no INS, elas fazem-se representar significativamente nas áreas técnicas e em posições de liderança, sendo ela própria um exemplo desta realidade. Afinal ela dirige a Divisão de Inquéritos de Observação de Saúde.

“Ser mulher na ciência, sobretudo na área de saúde, em Moçambique, particularmente no INS, é, definitivamente, sui generis. Apesar das peculiaridades socioculturais do nosso país, o INS não só valoriza, como também, de certa forma, prioriza a mulher investigadora”, disse.

Formada em Medicina Geral pela Universidade Eduardo Mondlane, Doutorada em Saúde Internacional e Pesquisa Médica pela Universidade de Munique, na Alemanha, e pós-doutoranda na Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos da América, Macicame é das mulheres cientistas de maior destaque no INS, instituição da qual faz parte há 13 anos.

“Logo que terminei a licenciatura, fui convidada a trabalhar para o Instituto Nacional de Saúde, onde tive a oportunidade de participar e coordenar várias iniciativas inovadoras, que incluem pesquisas, vigilâncias comunitárias, incluindo a concepção e criação do Observatório Nacional de Saúde”, partilhou.

No INS, o percurso da investigadora começou no Centro de Investigação e Treino em Saúde da Polana Caniço. Posteriormente, passou a trabalhar na Delegação do INS na cidade de Maputo, aquando da sua criação, há cinco anos, onde desempenhou a função de chefe do Departamento de Pesquisa, Formação e Inquéritos de Saúde.

Para além de responder pela Divisão de Inquéritos e Observação em Saúde no INS, Ivalda Macicame integra um grupo de 10 membros do Comité Consultivo do Consórcio Africano de Coortes Populacionais, organização na qual é a única representante de um país africano de língua oficial portuguesa.

Em Moçambique, apesar dos avanços significativos em relação à sua presença na ciência, tanto em termos de oportunidades de formação graduada e pós-graduada, até em posições estratégicas de gestão e liderança, as mulheres ainda enfrentam desafios na carreira, sobretudo ligados a questões socioculturais.

De acordo com a interlocutora, a mulher carrega responsabilidades sociais e familiares imensuráveis, que carecem de muita dedicação, energia e tempo. E, por sua vez, a carreira científica não é diferente. Neste contexto, a investigadora defende a constituição de redes de apoio à carreira da mulher na área científica.

“Estar inserida num meio social e familiar onde existe suporte e até incentivo moral para que a mulher se dedique à sua carreira profissional é, com certeza, um factor de sucesso para conseguir conciliar as duas áreas”, disse, acrescentando que a organização, priorização e boa gestão do tempo são fundamentais para conciliar a vida familiar e a carreira.

A entrevistada reforça a necessidade de as mulheres moçambicanas que se identificam com a área de investigação científica investirem na busca de conhecimento e abraçarem a carreira com zelo, excelência e confiança.

“Invistam nas vossas carreiras, porém sem perder a humildade, suavidade e o carisma que nos tornam seres únicos. Que, sempre, nos abracemos, nos encorajemos e nos alavanquemos como mulheres moçambicanas na ciência”, vincou.