SIS-COVE recomenda priorização de doenças crónicas e infecciosas no país

Moçambique vive, actualmente, uma transição epidemiológica, caracterizada por uma tripla carga de doenças, nomeadamente as infecciosas, doenças crónicas não transmissíveis e o trauma. Nesta transição, segundo explicou o coordenador do SIS-COVE, Celso Monjane, durante uma mesa-redonda de apresentação dos resultados do SIS-COVE na província da Zambézia, referentes ao ano 2021, verifica-se um aumento, em quatro vezes, do peso da mortalidade por doenças crónicas não transmissíveis e pela duplicação do peso da mortalidade por trauma nos últimos 12 anos nas áreas rural e urbana.

Face a este cenário, Monjane fala da necessidade da priorização simultânea das doenças crónicas e infecciosas.

Há um trabalho importante a ser feito, porque, se por um lado temos um aumento de doenças crónicas não transmissíveis, por outro, as infecciosas continuam em alta. Viemos de um momento em que olhávamos só para as doenças infecciosas como as que chamam mais atenção e, agora, estamos a ver que as crónicas estão a tornar-se num dos maiores problemas para o país. Por isso, é preciso que comecemos a olhar para os dois grupos de forma priorizada, defendeu.

Monjane realçou que cerca de 3/4 dos óbitos, em Moçambique, ocorrem fora da unidade sanitária, facto que revela a necessidade urgente de se fortalecer o subsistema comunitário de saúde, o que passa por empreender esforços, no sentido de a comunidade perceber que, em caso de doença, as pessoas devem aproximar-se à unidade sanitária para tratamento.

No quadro das perspectivas, o interlocutor apontou a implementação deste sistema, que inclui a colheita contínua de eventos vitais e causas de morte, a implementação de vigilância integrada de doenças e a medição do impacto de intervenções comunitárias. Igualmente, mencionou a realização de acções coordenadas e o uso de dados para acção.

Por seu turno, Vánio Mugabe reconheceu a importância da presença dos participantes no evento e apelou a todos os intervenientes do sector da Saúde a usarem os dados como base para as planificações.

“A questão que se coloca é: ‘Como usar os dados para melhorar a assistência que prestamos à população?’ São poucas as oportunidades de discussão destes dados. Por isso, devíamos pensar em como ter discussões sistemáticas, mesmo que sejam de forma virtual, e mostrar o quão é importante produzir estes resultados para a definição de estratégias de intervenção comunitária”, disse, sugerindo a inclusão de outros actores relevantes na tomada de decisão, visto que a resolução de algumas situações não depende unicamente do sector da Saúde.

Na mesma senda, o Médico-chefe Provincial da Zambézia, Isaías Marcos, destacou a importância do SIS-COVE na geração de resultados, sendo estes de grande utilidade no apoio à tomada de decisão e melhoria de políticas de saúde no país.

A implementação do Sistema Comunitário de Observação em Saúde e de Eventos Vitais (SIS-COVE) iniciou-se em 2017 e visa informar a planificação no sector da Saúde, entre outras questões relevantes para a melhoria da saúde da população. Para a recolha de dados, a plataforma usou como instrumentos a vigilância comunitária e a autópsia verbal e social. No geral, está em seguimento, no SIS-COVE, uma população de 167,409 pessoas, das quais 82,356 homens e 85,053 mulheres.

Com uma abrangência nacional, o sistema cobre unidades chamadas conglomerados em todas as províncias. No total, conta com 700 conglomerados e, até ao ano 2021, alcançou cerca de 100 mil agregados familiares e mais de 800 mil indivíduos. Dos referidos conglomerados, Zambézia conta com o maior número, tendo 118.

O SIS-COVE é implementado pelo INS, em colaboração com o Ministério da Saúde, Instituto Nacional de Estatística (INE), Ministério da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos, John Hopkins Bloomberg School of Public Health, os Centros de Controlo e Prevenção de Doenças, a Organização Mundial da Saúde e Fundação Bill & Mellinda Gates.

O evento incluiu uma mesa-redonda, que discutiu os resultados apresentados, e contou com a participação de vários quadros do INS, médicos-chefes distritais, inquiridores, representantes dos Serviços Provinciais de Saúde da Zambézia e do INE, organizações não governamentais, líderes comunitários, entre outros convidados.