BREVE RESUMO SOBRE O SURTO DA DOENÇA MÃO-PÉ-BOCA
Contexto
As autoridades de saúde da África do Sul emitiram um comunicado de imprensa no passado dia 17 de fevereiro de 2025, em que reportaram a ocorrência de um surto da doença mão-pé-boca em crianças com idade inferior a 5 anos na Província de Kwazulu Natal. O surto foi reportado em algumas escolas primárias e centros infantis com um cumulativo até ao momento (25 de Fevereiro) de cerca de 370 casos maioritariamente na área metropolitana de Durban.
Breve descrição da doença
A doença mão-pé-boca é uma virose causada pelos vírus Coxsackievirus A16 e Enterovirus 71 (EV71). É comum em crianças com idade inferior a 10 anos, sendo predominante em crianças com menos de 5 anos devido ao seu sistema imunológico ainda imaturo.
Embora altamente transmissível, a doença é benigna e auto-limitada, isto é, cura espontaneamente entre 7 e 10 dias sem deixar sequelas.
Embora a infecção seja mais prevalente entre as crianças, adultos também podem ser afectados, apresentando sintomas mais leves.
Formas de transmissão da doença mão-pé-boca
Os vírus causadores da doença mão-pé-boca podem ser transmitidos das seguintes formas:
- Contacto directo – por meio do contacto directo com uma pessoa infectada, através de gotículas de saliva, secreções nasais, fezes, ou bolhas das lesões.
- Contacto indirecto – por meio de superfícies ou objectos contaminados, como brinquedos, maçanetas das portas, corrimão, entre outros.
Sintomas da doença mão-pé-boca
Na maior parte dos casos os sintomas iniciam entre 3 e 7 dias após a infecção e duram entre 7 e 10 dias sem deixar sequelas. Os sinais e sintomas comuns incluem:
- Febre baixa a moderada
- Dor de garganta
- Fadiga
- Perda de apetite
- Podem surgir úlceras dolorosas na boca e lesões vesiculares nas mãos e pés.
- Nos casos mais graves, a doença pode levar a complicações neurológicas, como meningite e encefalite.
Tratamento da doença mão-pé-boca
O tratamento é sintomático, por exemplo para a febre e dor de garganta, descanso e hidratação, pois não existe um antivírico específico.
Recomenda-se o uso de analgésicos e antipiréticos (paracetamol ou ibuprofeno) para alívio da febre e da dor, além de garantir hidratação oral adequada, uma vez que as lesões na boca podem dificultar a ingestão de líquidos.
A alimentação deve ser leve e fria para minimizar o desconforto oral. Adicionalmente, é importante avaliar sinais de gravidade, como vómitos persistentes, irritabilidade extrema ou manifestações neurológicas, que podem indicar complicações mais graves.
Há necessidade de dedicar especial atenção às crianças menores de 6 meses, imunocomprometidas e para todas faixas caso não haja melhorias dentro de 10 dias.
Prevenção da doença mão-pé-boca
- Reforço da higiene individual e colectiva, nomeadamente
- lavagem das mãos
- desinfecção regular das superfícies e
- evitar a partilha de objectos, utensílios e refeições entre crianças nos locais com surto.
- Evitar o contacto directo com crianças doentes
Recomendações às escolas e creches
Não se recomenda o encerramento das escolas ou centros infantis com surto activo, pois as consequências do encerramento das escolas para a educação das crianças são mais graves.
A doença mão-pé-boca é geralmente leve, as crianças podem continuar a frequentar a creche e a escola, desde que:
- Não tenham febre.
- Se sintam bem o suficiente para participar nas aulas.
- Não tenham secreções salivares excessiva devido a feridas na boca.
Se ainda tiver dúvidas sobre quando a criança pode regressar, consulte o profissional de saúde.
Situação Epidemiológica no Mundo e em África
Entre os anos 1970 e 1990, surtos da doença mão-pé-boca causados pelo EV-A71 ocorreram frequentemente nos EUA e foram monitorizados em vários países europeus. Japão, Brasil e Austrália registaram numerosos casos de meningite assética e encefalite associadas ao vírus.
No final do século XX, a actividade do EV-A71 aumentou no Pacífico Ocidental, com surtos graves na Malásia (1997) e Taiwan (1998), causando dezenas de mortes. Entre 2008 e 2014, a China registou mais de 10 milhões de casos e 3.046 óbitos, com um pico em 2012. O Vietname (2011-2012) e o Camboja (2012) também enfrentaram surtos de grande escala.
Outros países da Ásia, como Rússia, Coreia do Sul, Singapura, Tailândia e Filipinas, sofreram surtos significativos. Recentemente, países europeus como Dinamarca, França, Alemanha, Espanha e Polónia relataram casos esporádicos.
Em África, os dados provenientes de estudo ou vigilância são escassos. Em 2023, Cabo-Verde reportou um surto com uma taxa de positividade de 82% (18/22) e o Senegal reportou positividade em amostras de enterovírus não pólio.
Situação Epidemiológica no país
Apesar da evidência de ocorrência de surtos da doença mão-pé-boca na vizinha África do Sul, Moçambique, até o momento, ainda não possui casos registados.
Perguntas frequentes sobre a doença mão-pé-boca
- Como é que a doença mão-pé-boca afecta os animais?
Resposta: A doença mão-pé-boca não ocorre em animais. Assim sendo, não existe possibilidade de transmissão da doença dos animais para as pessoas.
- Como é feito o diagnóstico da doença mão-pé-boca?
Resposta: Na maior parte dos casos o diagnóstico da doença mão-pé-boca é clínico, isto é, através da avaliação dos sinais e sintomas que a pessoa infectada apresenta. Nos casos graves, podem ser colhidas amostras da garganta ou de fezes para processamento no laboratório.
- Temos vacina disponível para a doença mão-pé-boca?
Resposta: Existe uma vacina para a prevenção da doença mão-pé-boca que protege contra o enterovírus 71 (EV71). No entanto, não oferece protecção contra outros vírus que também causam a doença.
Referências
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