INS estabelece capacidade técnica para avaliar susceptibilidade de parasitas a antimaláricos

O Laboratório de Parasitologia do Instituto Nacional de Saúde (INS), em colaboração com o Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa, está em processo de estabelecimento de capacidade técnica de realização de ensaios em técnicas in-vitro e ex vivo,para avaliar a susceptibilidadedos parasitas da malária (Plasmodium falciparum) aos medicamentos usados em Moçambique para o tratamento desta doença.

Inicialmente, o país usou fármacos para o controlo e tratamento da malária não complicada, tais como Cloroquina (CQ) e Sulfadoxinia-perimetamina (SP). Porém, estes  fármacos, com o tempo, passaram a não ser eficazes, porque os parasitas causadores da doença se tornaram resistentes.

Em consequência do aumento das taxas de morbimortalidade e da dispersão mundial de isolados de Plasmodium falciparum resistentes à Cloroquina e Sulfadoxina-Pirimetamina, a Organização Mundial da Saúde, desde 2001, recomenda o uso da terapia combinada na base de derivados de Artemisinina (ACT), como primeira linha de tratamento.

Segundo o pesquisador do INS e coordenador das provas in vitro e ex vivo, Agostinho Teófilo, nesta terapia, a possibilidade de selecção de parasitas resistentes é reduzida, dado que a maior parte da carga parasitária é eliminada pela rápida acção das artemisininas (ART) e/ou seus derivados.

O pesquisador assinala que, infelizmente, apesar de se ter introduzido a terapia combinada, surgiram as primeiras evidências em várias partes do mundo, indicando que os parasitas da malária continuam resistentes, daí que se fazem necessários os ensaios em curso.

“Há necessidade de se fazer uma vigilância contínua da sensibilidade dos parasitas aos antimaláricos, de forma que seja possível detectar mudanças na susceptibilidade de parasitas a determinadas drogas, assim como sua dispersão, permitindo que se efectue, caso necessário, uma revisão das recomendações terapêuticas, para instituir novas políticas de tratamento com maior impacto, baseadas em evidências concretas em tempo real”, argumentou.

Agostinho Teófilo, coordenador das provas in vitro e ex vivo

Agostinho Teófilo explica que as técnicas em referência consistem na aplicação de amostras colhidas em pacientes com teste positivo para malária numa placa contendo fármacos em determinadas concentrações e encubadas numa estufa a 37°C para o respectivo cultivo, devendo o resultado aparecer entre 48 e 72 horas.

“Depois de 48 a 72 horas, dependendo do fármaco, verificamos se os parasitas naquela dosagem sobreviveram ou morreram. Isto já vai nos dar a sensibilidade daqueles parasitas em relação a um determinado fármaco. Se os parasitas morrem, significa que há uma sensibilidade em relação ao fármaco. Se não morrerem, significa que estamos perante uma possível resistência”, esclarece, realçando a relevância da monitoria das drogas usadas.

O entrevistado assinala que os ensaios in-vitro e ex vivo servem como sinal de alerta, sobretudo para detectar o grau de resistência e eficácia dos fármacos usados no país para o tratamento da malária.

Com o exercíco em curso, segundo o entrevistado, espera-se que os testes de susceptibilidade sejam úteis para a instalação da vigilância sanitária contínua, expandindo-se para os outros laboratórios de saúde pública do INS, para auxiliar a elaboração de políticas e o processo de tomada de decisões neste ramo. Os testes estão a ser feitos com quatro drogas, actualmente em uso no país, nomeadamente Dihidroartemisinina, Piperaquina, Amodiaquina e Lumefantrina.