Os adolescentes e jovens moçambicanos continuam a enfrentar acesso limitado aos serviços de saúde sexual e reprodutiva, não obstante o país ser jovem, com cerca de 53 por cento da população com idade inferior a 18 anos.

Segundo a antropóloga e pesquisadora da UEM, Sandra Manuel, falando durante a Plenária I das XVII Jornadas Nacionais de Saúde, que abordou o tema “Novas sociabilidades em adolescentes e jovens no pós-COVID-19”, concorre para esta limitação a forma como o Serviço Nacional de Saúde (SNS) está montado e estruturado.

“Ele se percebe como uma estrutura mecânica funcional independente do contexto, ou seja, replica-se a mesma estrutura em todo o país, sem tomar em consideração o contexto e as dinâmicas locais onde se vai localizar”, explicou Sandra Manuel, que apresentou o tema “Pensar a juventude no ‘novo normal’ em Moçambique: pistas para ampliar o diálogo entre áreas de conhecimento”.

A investigadora referiu que enquanto esta estrutura prevalecer, estes serviços vão continuar a falhar, sobretudo na oferta de serviços, aliado às condições materiais, falta de infra-estruturas, de laboratórios, de pessoal formado, escassez de recursos humanos e ruptura de estoque.

Para reverter o cenário, a a estudiosa recomenda que o SNS olhe para si como uma instituição cultural, com práticas culturais e sistemas internos que podem influenciar nos resultados dos serviços prestados, pois, enquanto não fizer isso, ela estará em constante conflito com os utentes devido aos seus valores socioculturais, que vezes sem conta, se contradizem com a medicina formal. A contradição é igualmente uma das causas para não se procurarem os serviços de saúde por parte dos utentes.

As XVII Jornadas Nacionais de Saúde realizam-se desde a manhã desta quarta-feira até dia 10 de Setembro, na cidade de Maputo, sob o lema “Promovendo a segurança sanitária e o desenvolvimento sustentável através da investigação científica transdisciplinar”.

O evento é virtual e pode ser acompanhado através de plataformas virtuais do INS.