África poderá ter uma vacina específica contra Rotavírus

O projecto AfRota (Antigens and Reassortant Strains for Rotaviruses Circulating in Africa) equaciona produzir uma nova vacina contra Rotavírus adaptada ao contexto africano. A informação foi prestada recentemente pelo investigador principal do projecto, o alemão Reimar Johne, durante a reunião anual, que teve lugar em Maputo de 14 a 16 de Setembro corrente, com o objectivo de discutir estratégias de produção de vacinas contra Rotavírus para uso em África.

O projecto integra três países, nomeadamente Moçambique, Alemanha e África do Sul, e foi estabelecido em 2018, tendo a primeira fase terminado em 2021, e a segunda iniciado em Fevereiro do ano em curso.

Reimar Johne explicou que os três dias do evento serviram para fazer o balanço das actividades e traçar directrizes para a segunda fase do projecto.

“Este é um projecto conjunto e tem como um dos objectivos estudar estratégia para prevenção da doença diarreica causada pelo Rotavírus através de vacinas. Já foram identificadas as novas estirpes de rotavírus em circulação em África e, neste momento, decorre o trabalho de avaliação para a selecção das melhores estirpes candidatas à vacina para a população africana”, explicou.

A co-investigadora principal do projecto e pesquisadora no INS, Nilsa de Deus, acrescentou que, nesta edição, Moçambique faz parte do pacote de trabalho número um, com foco na implementação de um sistema One Health para a vigilância de estirpes de Rotavírus.

“Nesta segunda fase do projecto, Moçambique é responsável por fazer a vigilância, determinar estirpes de Rotavírus em circulação no país em crianças, animais e no ambiente, usando abordagem One Health no distrito de Marracuene. Durante a reunião, cada um dos participantes do projecto apresenta o grau de implementação das actividades do seu pacote de trabalho e, depois, temos uma discussão conjunta”, acrescentou.

Para além da componente de pesquisa, o AfRota integra a parte de formação de jovens investigadores. No caso de Moçambique, existem cinco jovens estudantes nesta fase, dos quais três fazem Doutoramento e dois, Mestrado.

Benilde Munlela, coordenadora do projecto em Moçambique e estudante de Doutoramento em Ciências Biomédicas, no seu trabalho de pesquisa, está a fazer a caracterização das estirpes de Rotavírus. Ao se provar que existem semelhanças entre estirpes animais e humanas, segundo ela, os resultados poderão ajudar a responder por que as crianças imunizadas com a vacina contra o Rotavírus continuam a ser infectadas pelo vírus ao ponto de serem internadas com quadro de diarreia.

“Os resultados de pesquisa vão ajudar a responder por que é que as crianças imunizadas com a vacina contra o Rotavírus continuam a ser infectadas e quais são os genótipos que estão a causar infecção ao ponto de serem internadas, uma vez que era suposto a vacina protegê-las. Então, temos que ver, ao nível do vírus (genoma viral), se há alguma mutação e procurar entender o que faz com que os anticorpos gerados pela vacina não consigam neutralizar o vírus”, afirmou.

Para além de apresentação e discussão de pacotes de trabalhos de pesquisa, os participantes da reunião do AfRota visitaram os laboratórios do INS em Marracuene, província de Maputo.