Estudo revela efectividade reduzida da vacina monovalente contra rotavírus em Moçambique

Um estudo da autoria de Assucênio Chissaque, pesquisador do Instituto Nacional de Saúde (INS), constatou que a vacinação monovalente contra o rotavírus apresentou uma efectividade reduzida de 52% contra a hospitalização por gastroenterite em crianças moçambicanas.

Intitulado “Efectividade da vacina monovalente contra rotavírus em Moçambique, um país com alta carga de desnutrição crónica, o estudo foi realizado em colaboração com outros pesquisadores da instituição, da Organização Mundial da Saúde, do Centro de Investigação em Saúde de Manhiça e Centers for Disease Control and Prevention, tendo avaliado a efectividade da vacina Rotarix em condições de uso de rotina em crianças moçambicanas hospitalizadas com gastroenterite aguda.

A efectividade da vacina Rotarix foi reduzida em crianças dos 12 a 23 meses em comparação a menores de 1 ano e foi, igualmente, reduzida em aquelas com desnutrição crónica em comparação às sem desnutrição crónica, apesar de os intervalos de confiança terem sido amplos e sobrepostos. Refira-se que, no país, 37% das crianças menores de 5 anos apresentam desnutrição crónica.

“Com isso, pode-se dizer que Moçambique tem a efectividade mais baixa da vacina contra o rotavírus em África, e a desnutrição crónica pode ser um dos factores que contribuem para o baixo desempenho da vacina nesta população”, lê-se no resumo da pesquisa.

O estudo consistiu numa análise caso-controlo de teste negativo, comparando crianças infectadas com rotavírus a outras não infectadas, com base em dados colhidos de 2017 a 2019.

As crianças envolvidas são menores de cinco anos de idade e foram admitidas com gastroenterite aguda em sete hospitais do país. Ao todo, foram incluídas 689 crianças, das quais 27.7 por cento foram positivas para o rotavírus.

Para as próximas pesquisas, o estudo recomenda um entendimento mais aprofundado sobre o papel da desnutrição crónica na eficácia ou efectividade da vacina em crianças, usando um estudo longitudinal e um tamanho de amostra maior que o da pesquisa em referência.

O estudo em alusão foi nomeado melhor artigo científico entre 141 publicados a nível global no volume X pela revista vaccines, culminando com a sua indicação para a capa daquela edição.

Vaccines é uma das mais renomadas revistas na área biomédica editada na Suiça de acesso aberto e com revisão de pares. Foi-lhe atribuído o factor de impacto 7.8, pela sua repercussão global na divulgação de evidências científicas de alta qualidade e relevância para saúde pública no ano 2022.

São co-autores do estudo Raquel Burque, Esperança Guimarães, Filomena Manjate, Arsénio Nhacolo, Jorfélia Chilaúle, Benilde Munlela, Percina Chirinda, Jerónimo Langa, Idalécia Moiane, Elda Anapakala, Adilson Bauhofer, Marcelino Garrine, Eva João, Júlia Sambo, Luzia Gonçalves, Goitom Weldegebriel, Keith Shaba, Isah Bello, Jason Mwenda, Umesh Parashar, Jacqueline Tate, Inácio Mandomando e Nilsa de Deus. Link de acesso: https://www.mdpi.com/2076-393X/10/3/449