Infecções pelo rotavírus A continuam elevadas em crianças vacinadas em Nampula

Um estudo realizado por uma equipa de investigadores do Instituto Nacional de Saúde (INS), apresentado em Março último, em formato virtual, concluiu que a frequência da infecção pelo rotavírus continua alta na província nortenha de Nampula, particularmente em crianças com idade inferior a 12 meses, vacinadas e que tiveram contacto com animais.

Designado Epidemiologia do rotavírus A nos períodos pré e pós-vacinal em Nampula, norte de Moçambique (2015-2019)”, o estudo foi realizado com o objectivo de analisar potenciais factores associados à doença e distribuição dos genótipos do rotavírus A por estado vacinal e idade das crianças com diarreia, atendidas no Hospital Central de Nampula (HCN).

Falando na qualidade de orador numa sessão científica do INS, onde a pesquisa foi apresentada, Assucênio Chissaque partilhou que outras conclusões salientes no estudo indicam que o genótipo G9P[6] foi o mais comum em crianças não vacinadas contra o rotavírus. O G9P[4], por sua vez, foi o mais comum em crianças que receberam uma dose de vacina contra rotavírus e o G1P[8] foi o mais comum em crianças com imunização total contra rotavírus (duas doses).

Na ocasião, o orador assinalou que a diarreia é a terceira maior causa de mortalidade infantil no mundo, facto que motivou várias intervenções, sendo de destacar a indicação do aleitamento materno exclusivo durante os primeiros seis meses de vida da criança, a introdução das vacinas contra o rotavírus e  cólera, o reforço da nutrição e a introdução de sais de hidratação oral, para além da aposta no campo de água, saneamento e higiene.

No contexto das vacinas, salienta-se a existência de quatro imunizantes licenciados pela Organização Mundial da Saúde, designadamenteRotarix, Rotateq, Rotavac e  Rotasiil.

O orador explica que a realização do estudo em menção justifica-se pelo facto de se ter observado uma frequência elevada do rotavírus no país, em particular na província de Nampula, onde aproximadamente 40 por cento das crianças internadas no HCN com diarreias tinham algum grau de desnutrição.

Ao aspecto acima referido, junta-se a circulação de genótipos emergentes G9P[6], G9P[4] e G3P[4], e o facto de o HCN ter apresentado uma alta frequência de crianças com tripla carga de doença, sendo HIV, Rotavírus A e desnutrição em crianças com diarreias.

“Duas análises chamaram atenção. Uma verificou que, em Nampula, havia uma frequência elevada do rotavírus, mesmo com a introdução da vacina. O genótipo G1P[8] continua o mais comum, mesmo depois da introdução da vacina Rotarix. Igualmente, há circulação de genótipos incomuns, e alguns deles são associados a surtos de rotavírus”, explicou.

Em jeito de lançamento de linhas de pesquisa, Chissaque defendeu a necessidade da realização de pesquisas que permitam compreender os factores relacionados à infecção em crianças vacinadas, caracterização do genoma completo das amostras positivas e extensão da vigilância do rotavírus para os animais domésticos.

Como recomendações, o estudo aponta a avaliação da razão pela qual as crianças vacinadas são infectadas com rotavírus, ao ponto de necessitarem de internamento; o estudo do papel dos animais na ocorrência de genótipos de rotavírus incomuns; a avaliação de factores do hospedeiro, tais como a desnutrição e anti-corpos maternos na resposta à vacinação.

Os dados desta pesquisa foram publicados na revista internacional PLOS ONE. O artigo pode ser encontrado no seguinte link: https://bit.ly/3jW3zqo