Pessoas que usam drogas apresentam elevado risco de contrair e transmitir HIV
Pessoas que Injectam Drogas (PID) apresentam um maior risco de contrair e transmitir o HIV, sífilis e hepatites virais, não apenas devido ao seu envolvimento em comportamentos de risco (sexuais e injecção de drogas), mas também porque são frequentemente marginalizados pela sociedade, o que reduz o seu acesso a informações e serviços de saúde.
A afirmação acima é parte das conclusões de Cynthia Baltazar, pesquisadora do Instituto Nacional de Saúde (INS), apresentadas durante a defesa da sua tese de Doutoramento em Ciências de Saúde, que teve lugar no dia 10 do mês em curso, em formato virtual.
“Os resultados da análise demonstram uma alta prevalência de HIV, hepatite B e hepatite C, frequentes comportamentos sexuais e práticas de injeção inseguros, o que contribui para a carga desproporcional destas infecções nesta população”, partilhou.
Intitulada “Pessoas que Injectam Drogas em Moçambique (PWID): Prevalência de HIV e Hepatites, Factores de Risco e Intervenções”, a pesquisa estudou as características de pessoas que injectam drogas em Moçambique, avaliou a prevalência do HIV, das hepatites virais B e C e o acesso aos serviços sociais naquele grupo populacional.
“Nesta tese descrevemos as características sociodemográficas e avaliamos a prevalência de HIV, hepatite viral (B e C), assim como co-infecções e comportamentos de risco entre as PIDs nas duas principais áreas urbanas de Moçambique (Maputo e Nampula/Nacala)”, revelou.
Segundo Cynthia Baltazar, adicionalmente, o estudo avaliou a dinâmica em torno do conhecimento e uso de serviços de saúde e sociais, e identificou diversas barreiras no acesso aos referidos serviços, incluindo o distanciamento geográfico, disponibilidade limitada de programas específicos, falta de conhecimento sobre os programas existentes, preocupações relacionadas com a qualidade dos serviços de saúde, medo de criminalização e experiências de estigma.
Igualmente, o estudo examinou os resultados do primeiro ano de implementação do primeiro centro de apoio comunitário para pessoas que usam drogas no bairro da Mafalala, e descreveu ligação entre o centro da Mafala e os serviços especializados para o tratamento do HIV, assim como analisou a retenção no tratamento.
“Estes estudos contribuíram para a compreensão da epidemia de HIV e Hepatite entre PID em Moçambique. Os resultados encontrados nestas pesquisas destacam a necessidade de introduzir programas de redução de danos para prevenir a disseminação do HIV e de hepatites virais entre essa população”, disse.
Nesta senda, a pesquisadora vincou que são necessários esforços intensificados na implementação de intervenções de prevenção e mudança de comportamento, assim como cuidados e tratamento específicos para PID, para limitar a transmissão daquelas doenças.
Cynthia Baltazar, que, igualmente, é directora do Programa de Formação em Epidemiologia de Campo de Moçambique (Moz-FETP), anotou que a maioria dos dados sobre o HIV, em Moçambique, concentra-se na população geral, com estimativas de prevalência calculadas a partir de dados programáticos, pesquisas periódicas de indicadores baseados na população e modelos matemáticos.