Baixa testagem pode estar a iludir em relação à real situação da COVID-19

– Alerta Director Regional da FHI 360

Moçambique fez um óptimo trabalho na gestão da pandemia da COVID-19 e fez uma história de sucesso, a olhar pelas estatísticas, que são fabulosas, mas talvez não! Quem o diz é o Director regional da FHI 360 para a região Austral e Oriental de África, Otto Chabikuli. O dirigente fez a delcaração na qualidade de orador numa sessão científica do Instituto Nacional de Saúde (INS), realizada na última sexta-feira (05), na cidade de Maputo.

Sob moderação do Director-Geral Adjunto do INS, Eduardo Samo Gudo, a sessão teve como tema “O passado, presente e futuro da resposta à COVID-19: implicações para os fazedores de políticas e outros profissionais em países de média e baixa renda”.

Otto Chabikuli começou por fazer um elogio ao país, referindo, até ao dia 04 do mês em curso, a nível mundial, o cumulativo de casos positivos confirmados do novo Coronavírus estava em torno de 581 milhões, dos quais 6.4 milhões resultaram em óbitos, um número muito alto de mortes num período de oito meses. Entretanto, quando se olha para as estatísticas de Moçambique, o número de casos positivos confirmados ronda apenas os 229 mil, e o de mortes confirmadas é de 2.216.

Depois de felicitar ao país pelo sucesso, o orador deixou ficar a dúvida sobre o que está por detrás daquilo a que considera “estatísticas fabulosas”, chamando atenção para a possibilidade de se tratar de um falso sucesso e desafiando os participantes a reflectirem sobre o assunto.

No desenvolvimento da sua locução, Otto Chabikuli revelou que a testagem de casos suspeitos do novo Coronavírus decresceu significativamente no mundo, incluindo em Moçambique, o que pode estar a dar a falsa ideia de sucesso na gestão da pandemia.

“Infelizmente, a realidade actual mostra que o mundo, literalmente, parou de testar. Não sei se parou de testar pelo facto de o número de mortes e hospitalizações estar a decrescer, mas a relevância da testagem, igualmente, reduziu. Desde Janeiro de 2022, a testagem declinou entre 70 e 90 por cento. Portanto, as pessoas não estão a testar. Se não se faz o teste, as estatísticas que o país estará a publicar podem ser apenas uma ponta do iceberg. Estamos a voar de olhos vendados, não sabemos o que está a acontecer nas comunidades”, vincou.

Chabikuli indica que, normalmente, a referência estabelecida pela Organização Mundial da Saúde OMS como boa taxa de testagem aponta para 10 testes por cada 10 mil pessoas por semana, e, desde Janeiro deste ano, apenas 27 por cento dos países é que alcançam esta taxa. No ano passado, segundo o orador, 40 por cento dos países é que foram capazes de alcançar a meta estabelecida pela organização.

“Este é o problema silencioso a que me referia, quando questionava se as estatísticas de Moçambique são baixas por causa do baixo nível de testagem ou por conta da realidade”, esclareceu.

No acto da apresentação do tema e do orador, Samo Gudo explicou que o INS é uma instituição de base científica e, nisso, privilegia a experiência dos outros actores. Ele destacou que Otto Chabikuli tem um profundo conhecimento em sistemas de saúde e gestão, para além de ser muito engajado em questões de docência, sendo, actualmente, director associado-adjunto de uma universidade em Washington, nos Estados Unidos da América (EUA).

A FHI 360 é uma organização sem fins lucrativos, que trabalha para melhorar a saúde e o bem-estar das pessoas nos EUA e em todo o mundo, tendo como áreas de actuação a sociedade civil, saúde, educação, nutrição, pesquisa, tecnologia, juventude, comunicação e marketing social, o desenvolvimento económico, meio ambiente e género.