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Sequenciamento genético revela emergência da resistência à Bedaquilina

… e destaca surgimento de estirpes da TB não detectadas pelo GeneXpert

Um estudo coordenado por Sofia Viegas, investigadora do Instituto Nacional de Saúde, em parceria com o Centro de Pesquisa de Borstel (RCB) da Alemanha, realça a transmissão e evolução rápida de estirpes de Tuberculose multirresistente (TB-MR) e extensivamente resistentes (TB-XR) de Mycobacterium tuberculosis (MTB) como um problema grave de saúde pública no controle da Tuberculose (TB) em Moçambique.

O estudo, intitulado “Emergência de tuberculose resistente à bedaquilina e de estirpes de Mycobacterium tuberculosis multirresistentes e extensivamente resistentes aos medicamentos com a mutação rpoB Ile491Phe não detectada por Xpert MTB/RIF em Moçambique: um estudo observacional retrospectivo”, publicado pela Lancet Infectious Diseases, é baseado no sequenciamento de nova geração (NGS) para analisar 704 genomas de amostras conservadas no Laboratório Nacional de Referência da Tuberculose do INS, com resistência à Rifampicina, colhidas de 2015 a 2021, com o objectivo analisar a evolução e transmissão da TB resistente. 

Um dos principais achados desta pesquisa é a emergência da resistência à Bedaquilina, um dos principais fármacos usados para o tratamento da TB-MR, que mostrou uma progressão preocupante, passando de 3%em 2016 para 14 % em 2021 em estirpes de TB-MR.

Outra descoberta, igualmente preocupante neste estudo, foi a elevada proporção de estirpes com uma mutação específica de resistência à rifampicina (rpoB Ile491Phe ou I491F), que permanece não detectada pelo Xpert MTB/RIF e pelo LPA disponível comercialmente. Uma grande proporção destas estirpes está associada a TB-MR e TB-XR.

A prevalência de estirpes com a mutação de resistência à rifampicina I491F, observada não só em Moçambique, como também na África do Sul e Eswatini, assim como a resistência ao Bedaquilina, podem comprometer os esforços para conter a epidemia de TB resistente em Moçambique

Neste sentido, o estudo recomenda que acções urgentes, como a implementação da vigilância genómica da TB e revisão do algoritmo de testagem para inclusão do NGS são estratégias fundamentais para aprimorar o controle da doença, diminuir a transmissão de estirpes resistentes, e em conformidade com as metas globais para eliminação da TB até 2030.

A pesquisa envolveu, para além da Sofia Viegas, Ivan Barilar, Tatiana Fernando, Christian Utpatel, Cláudio Abujate, Carla Maria Madeira, Benedita José, Cláudia Mutaquiha, Katharina Kranzer, Tanja Niemann, Nália Ismael, Leonardo de Araújo, Thierry Wirth, Stefan Niemann.

Link de acesso ao artigo: https://authors.elsevier.com/c/1i3xb_XVyhTU7I